segunda-feira, 21 de junho de 2010

José Saramago, 1922-2010

Não podemos passar ao lado da morte daquele que era o expoente máximo da literatura portuguesa, José Saramago. Uma figura controversa e polémica que dividiu e continuará a dividir a  opinião civil. Contudo, ninguém pode negar ou desvalorizar o importante contributo do escritor ribatejano para a divulgação e promoção da literatura portuguesa. Obras como “Memorial do Convento” ou “Ensaio sobre a Cegueira” (que já teve direito a uma versão cinematográfica) são exemplos de sucesso não só em Portugal como por esse mundo fora. É um momento de luto para os amantes da escrita sui generis de Saramago. A vida para o escritor não foi fácil. Oriundo de uma família humilde, José Saramago teve sérias dificuldades em prolongar os estudos liceais. Conheceu inclusive o desemprego. Apesar de tudo, nunca negou as suas origens nem abdicou dos seus sonhos acabando por torna-se a par de Camões e Fernando Pessoa um ícone da literatura nacional. Coleccionou prémios entre eles o Prémio Nobel da Literatura em 1998 tornando-se assim no primeiro e, até agora, único escritor português a conseguir tal feito. É altura de expressar gratidão e honrar o nosso maior “contador de histórias”. Que a sua alma descanse em paz.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

A Morte do Amor!

Triste notícia: morreu o Amor. Foi encontrado abandonado e moribundo. Indícios de crime não se deslumbram. Sabe-se apenas que já fazia algum tempo que o amor sofria de uma loucura crónica e de uma cegueira sem igual. Pelas ruas ouve-se um chilrear amargurado dos pássaros, o dobrar desgostoso dos sinos. Acabou-se a Primavera, acabaram-se as flores, acabou-se a doçura do mel. A borboleta que voava desespera agora num choro convulsivo. Rios de lágrimas correm pelos rostos inconsoláveis. Na boca sobra apenas o sabor do último beijo do Amor. Lá do céu grita o Amor:
-Chorem desgraçados, hoje ficaram sem aquilo que mais vos fazia falta.
Pode-se acusar o Amor de vaidade, mas não se pode esconder alguma realidade nas suas palavras. O desespero cá em baixo é enorme. Aproxima-se a noite e toda a gente sabe que quando surge o escuro o Amor era protecção e consolo.
-Perdão, perdão - grita-se cá por baixo na esperança de que o Amor possa voltar.
Nenhuma resposta. Neste silêncio o Amor actua discretamente. Ninguém sabe mas ele está a ensinar a sua filha Paixão para que a felicidade não se eclipse destes rostos tão belos. A vida continua. Voltará a haver Amor? Um dia, talvez um dia...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Rugas

Sentado estava o homem que já foi jovem um dia. Perdido para lá do pensamento, olhar vazio, expressão triste. Os anos e a solidão fizeram dele um "selvagem". Agora vive apenas na esperança que o dia acabe e ele se possa deitar novamente na cama e que quando fechar os olhos não os volte a abrir. É o sentimento de muitos idosos que, como ele, sofrem desse abandonamento mortal. A vida já não é vivida, apenas é relembrada. O passar lento das horas é o maior sofrimento.
O homem levanta-se a muito custo e olha o horizonte. A sua visão degradada ainda vê ao longe aquela sua infância sofrida mas alegre. Vê também a juventude da diversão e do trabalho. Procura pela "negra sombra" mas esta parece estar ainda muito longe, ainda para além da recordação. Vai caminhando em direcção a casa em queda (tal como ele). Sabe que ninguém o espera e por isso a lentidão acentua-se. Vai jantar e dormir. Amanhã será um novo dia. Mas só se Deus quiser.