segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vazio Completo

Abri a porta. Deixei que o vazio me completasse. Olhei ao redor tentando preencher o que estava a faltar. Senti uma vibração de paixão sair do chão que ambos pisámos. Sentei-me nesse chão frio. Tentei ouvir a tua voz, ignorando o silencioso ruído que ecoava das paredes. Estremeci. Ouvi uma chave que penetrava na fechadura e abria, mais uma vez, essa porta. Olhei-te. Estavas tão linda como em todas as memórias que ainda guardo de ti. Pareceu-me que os teus olhos sorriam. Sentaste-te ao meu lado. Senti o calor invadir esta sala vazia de tudo. Tentávamos, assim sentados lado a lado, preenchê-la com um amor que se havia esgotado e ainda com tanto para dar. Levantei-me e dei alguns passos até chegar à janela e poder observar o exterior. Correu-me pela memória um tremor estranho que me puxava para ti. Soube nesse instante que ainda te amava. Não fui forte oi suficiente para ficar longe e aqui estava eu, de volta à nossa cabana de amor. Senti os teus braços envolverem-me pelas costas e o meu coração ajoelhou-se perante esse gesto carinhoso e doce. Virei-me e abracei-te. O vazio estava preenchido e os nossos corações estavam de novo acorrentados um ao outro. Desprendi o abraço e olhei-te nos olhos. Estavam lacrimejantes e brilhavam à luz do sol morno que entrava pela janela. Começaste a derramar algumas lágrimas. Também eu comecei a chorar. Chorei pelo que fomos e que se perdeu numa espiral de amor gasto e envelhecido. Contudo, nunca houve uma despedida. Amávamo-nos demais para nos abandonarmos completamente. Nunca houve um adeus definitivo, apenas um até breve. Limpei as lágrimas com as costas da mão e beijei-te. Amarrei-te os lábios querendo ficar parado no tempo. Soltei o beijo a custo e dirigi-me à porta. Sai e fechei essa porta, sabendo que um dia voltaria a entrar. Um dia, talvez um dia…