quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Um Amor Incondicional

Nutrir amor por um objecto sem vida é algo com que me identifico. Apaixonei-me ainda na adolescência e cada vez mais vejo esse amor a crescer. São os meus amigos inanimados mas tão palpáveis. Já adivinharam? São os meus livros. Vivemos um amor próximo, diário e em que cada virar de página só enaltece este amor desprendido de razão. Deste amor não se espera um fim, no máximo apenas uma pequena crise de interesse. Mas nunca morre. Sinto que enquanto as rugas me vão marcando o rosto também eles envelhecem. Ficam com as páginas amarelecidas, tornam-se edições raras ou acabam até por um anonimato incompreensível. Amores assim nem nos livros, só pelos livros. Vivemos juntos sem casamento marcado mas também sem separação à vista. Sei que um dia o barqueiro negro me irá levar e este grande amor cá ficará como o maior elogio à minha vida. 

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Um #estou-mecagandismo

Tenho redes sociais? Sim. É, para mim, um local de partilha de momentos, pensamentos, ideias, estados de espírito e representa também o reviver de momentos e amizades. Contudo, tenho-as usado para fazer uma análise sociológica. E não podia estar mais desapontado. Bem sei que vivemos num tempo em que impera ou o policamente correcto ou a fanfarronice. Qualquer uma delas me irrita profundamente. A primeira porque acho que virou moda e parece que todas as pessoas viraram rebanho e seguem o mesmo caminho. Deixou de existir o pensamento próprio. Deixou-se de defender ideias e ideais em que acreditamos apenas para parecer bem. Existe uma incapacidade de formar opinião. E, quando esta se forma, somos submetidos a todo o tipo de insultos que começam de forma absolutamente gratuita. E temos também o segundo caso (o da fanfarronice) que é em geral conduzido por um sentimento de supeoridade hipócrita. E só é hipócrita porque só existe no anonimato de um teclado. Num caso ou noutro, ter opinião própria e politicamente incorrecta é comparável a ser um marginal, um louco inadaptado a uma sociedade de ovelhas. Parafraseando: "o foda é ser bode num mundo de ovelhas". Ou, como eu digo, ser pessoa na multidão. Pouco me importa ser maluco ou inadaptado porque não alimento ódios, cultivo o respeito. Não vendo simpatia, ofereço-a. Não pretendo likes nem reconhecimento, quero apenas ser o bom rebelde. Viver à margem mas integrado no mar que somos todos nós. Eu sei que a minha alegria faz confusão, que o meu humor negro choca, que a minha simpatia é anormal, que o meu carpe diem é condenável, mas, a minha felicidade depende de mim e não do que pensam de mim.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

As Frutas e Legumes são Pesados na Caixa- Parte II

A partir de um texto de Miguel Esteves Cardoso

"O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo.É preciso segurá-la enquanto ela há." É nefasta a brevidade do tempo que passamos juntos. Mas nada existe de melhor do que a companhia das pessoas que escolhemos amar de forma leal e incondicional. Fazemos sempre o mesmo: bebemos umas quantas cervejas (bem frescas), um café, fumamos um cigarro, vamos almoçar ou jantar... E tudo tão diferente mas sempre igual. Unidos em volta destas coisas tão banais, vivemos aquilo a que se resumirá a nossa vida. Percorremos um caminho juntos mas cada um por si. Vamos criando aquilo a que chamamos memórias. Temos tendência a guardar os bons momentos mas estamos sempre mais presentes nos maus. Deve-se isso a um compromisso que temos: nunca deixar que o amigo bata no fundo. Temos o dever de o erguer, de o fazer olhar em frente e ver tudo aquilo que ainda temos para viver juntos. Invisivelmente estamos sempre de mãos dadas tal e qual os namorados no início da paixão. A amizade, quando é verdadeira, resiste à distância, a todas as tempestades, a todos os obstáculos... E quando se ganha um amigo é para a vida, é viver aprisionado a alguém mas num aspecto positivo. "Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai  distância tão grande como a vida." 

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Surpresas

Gosto de surpresas e, no entanto, odeio-as. Aquele momento em que o coração explode num sentimento tão pouco cerebral. Não existe ligação entre entre a razão e a emoção. Vê-la outra vez acelarou-me o coração e toldou-me a razão. Porque será que não consigo sentir com o cérebro? Quando a vejo apenas o coração pensa. Será isto o amor que tanto se apregoa? É mais que isso. Olhos que não vêem, coração mais descansado. Mas quando a vejo o coração sente mais que qualquer outro. Acelera mesmo tendo o motor já cansado e velho. Entra numa combustão sem fim que me leva todas as energias. E mesmo chovendo oo sol brilha. Porque para mim ela será sempre um belo dia de Verão. Contudo, quando o coração desliga, o cérebro sabe que ela é uma nuvem. E como nuvem tanto se pode desviar-se do Sol como pode fazer chover. E ela é isso e muito mais. Por isso é que eu sei que ainda a amo. Pela montanha russa de emoções que me provoca, por viver numa ambiguidade tão boa, por ser amado e rejeitado. É algo tão estranho e tão encantador. Hei-de chegar até ela. Mas o que interessa realmente não é lá chegar. É a viagem. E apesar de dolorosa vai ser uma viagem magnífica. Lá chegarei. Se o motor aguentar.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Biografia

A partir de um poema de Alberto Caeiro
"Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, não há nada mais simples. Tem só duas datas - a minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra coisa todos os dias são meus."
Dias que se acumulam e somam semanas. Semanas, meses, anos... Tanta medida para medir algo tão imensurável. Somos nós que medimos o tempo. Tanto breve instante que dura uma eternidade. Tanta eternidade que dura apenas um momento. Quanto desse tempo conseguimos guardar e aproveitar? Tão pouco que até causa raiva. Revivemos enquanto dormimos e sonhamos acordados. Tanta vida que se acumula. Não é o sonho que comanda a vida, é a vida que gera mais sonhos. E tão belo que isso é. Mas é tudo tão nosso. Claro que a partilha é, ainda, um bem precioso. Viver isolado é uma reclusão perpétua. Mas ninguém viverá a minha vida por mim. Neste limbo em que vivemos somos todos actores. E nós temos o papel principal da nossa história. Contudo, quando uma lápide de mármore nos cobrir seremos apenas duas datas. E todos os outros dias morrem connosco.

domingo, 23 de junho de 2019

Reflexo de um Cigarro

A partir de um auto-retrato de José Cardoso Pires.


Fumar ao espelho, solidão dobrada. Enquanto aspiro o fumo e carbonizo um pulmão já bastante dilacerado, revivo tudo o que me apetece. Embora tudo seja turvo, talvez por causa do fumo que invade o espaço, nada me alegra ou entristece mais. Recuo a um passado por vezes tão presente. Entre uma passa e outra aprendo um pouco. Descubro que sou mais infinito que o fumo que se dissipa ao misturar-se com o ar puro que estou a poluir. Provoco em mim uma morte lenta mas, também, vivo de novo. Vício tão desagradavelmente satisfatório. Espero que o pulmão resista a esta actividade cerebral que me é tão querida. É na solidão deste cigarro que encontro todos os caminhos onde queria voltar a percorrer. Olho o espelho e vejo uma face em mudança por entre o nevoeiro por mim provocado. Penso: se este cigarro se apaga será que as minhas memórias desaparecem? Se deixar de fumar será que me torno amnésico?
Quando este cigarro acabar, volto ao doloroso presente. E tentarei acumular mais memórias para as reviver diante deste espelho enquanto condeno os pulmões a prisão perpétua.

terça-feira, 11 de junho de 2019

And now our watch has ended

Quase três semanas depois ainda é impossível preencher o vazio deixado por A Guerra dos Tronos.
Foi uma caminhada dura. Depois de vários anos de coração e cérebro dilacerado, finalmente algum repouso. Mas é um repouso desconfortável. Fica uma grande parte de nós incompleta e que ansiava por mais.
Apesar de todas as críticas, achei a conclusão quase perfeita. Como já antes referi, podiam ter sido feitos mais dois ou três episódios. Não mais que isso.
E agora? Agora, que já sabemos o fim, voltemos ao início. Façamos a viagem mais uma vez. Procurar no caminho todos os detalhes que perdemos. Recordar aqueles momentos em que deixámos que a paixão, a raiva, o ódio e o amor nos invadissem através de um ecrã. Podemos, alternativamente, aguardar pacientemente pela conclusão de George R.R. Martin.
Para aqueles que nunca viram: comecem com coragem e determinação. E, no fim, espero que digam como eu: que fantástica viagem.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

Por quem os sinos dobram?

SPOILER ALERT: Este texto é sobre a última temporada de "A Guerra dos Tronos". Portanto, se não viu, é melhor parar por aqui. Foi avisado.

Depois de ter visto "The Bells", quinto episódio da derradeira temporada, fico com uma sensação ambígua. Sim, poderia ter sido mais e melhor. Contudo, acho que não haveria grande espaço para tudo aquilo que nos foi oferecido durante as primeiras temporadas. A intriga, os golpes palacianos, traições inesperadas, mortes chocantes e imprevisíveis. Digo isto porque se tomou o caminho da guerra. E estas coisas apaixonantes tiveram que ser mais espaçadas ou, por vezes, até inexistentes.
Tenho lido imensos críticos a afirmar que esta é a pior temporada de sempre. Que está mal escrita, que se está a deitar 7 temporadas para o lixo... Sou obrigado a não concordar. Na minha modesta opinião (vale o que vale), está a ser muito consistente com aquilo que foi construído. Está um pouco apressado? Sim, concordo. Mas não significa que seja mau. Penso que grande parte do desapontamento dessas pessoas advém do facto de não estar a acontecer o que pretendiam. Mas acontecer aquilo que queremos nunca foi GoT. "Mas se houvesse livros ia ser diferente": é um argumento válido mas também falacioso. Até porque eu já li os livros e o rumo da história não é exactamente o mesmo. Aliás, a série é apenas baseada nos livros e não um adaptação exacta para televisão. Resumindo: acho que as críticas são legítimas mas só vê quem quer. Eu vou continuar a ver e a amar esta "coisa" épica. Segunda feira cá estarei para o último adeus.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

O Inverno Chegou

ATENÇÃO: Pode conter Spoilers!

Se nunca assistiu a A Guerra dos Tronos pode ler este texto mas o seu efeito será muito diminuto. Se viu mas ainda não visualizou o segundo episódio da 8ª temporada, leia mais tarde.

Sempre disse que este blog seria sobre as minhas paixões. E claro está que A Guerra dos Tronos é sem dúvida uma paixão das grandes.

Começo a escrever este texto quando falta pouco mais de uma hora para ser emitido aquele que é, talvez, o episódio mais aguardado da história da televisão. O grande final aproxima-se. Mas quero acima de tudo enaltecer o que foi um estrondoso segundo episódio. Deu-me em certo ponto uma nostalgia ainda antes da despedida. Tudo foi tão bem orquestrado. Acho que foi o momento em que dissemos adeus a alguns dos personagens mais queridos. E o Podrick a cantar Jenny of Oldstonnes foi assombroso. Aliás, toda aquela cena foi maravilhosa.
E, antes que comece o terceiro episódio, quero aqui fazer uma espécie de final à lá João Batista. Quero atribuir a cada personagem um final. Alguns são o final que eu gostava, outros o final que eu acho que terão. Vamos a isso.

Jon Snow/Aegon Targaryen - Adorava que o Jon acabasse sentado no Trono de Ferro. Não só por ser o legítimo herdeiro mas também porque "o que está morto, não pode morrer"

Sansa Stark - Penso que a Sansa irá sobreviver e tornar-se Senhora de Winterfell e Protectora do Norte para o Rei Aegon. Depois da grande evolução que esta linda senhora teve, para além do sofrimento dos Stark em toda a série, seria um crime matá-la. Mas nesta série ninguém está a salvo.

Arya Stark - Morta. Acaba os seus dias a fazer alguma coisa típica de um herói. Poderá ser ela a matar o Night King?

Bran Stark - A memória do mundo não pode morrer. Ponto final.

Cersei Lannister - Uma personagem algo cruel mas que também teve os seus momentos de sofrimento. Acaba morta pelo seu irmão Tyrion.

Jaime Lannister - O caminho de redenção de Jaime chegará ao fim na batalha de Winterfell. Morre a para salvar o Bran Stark.

Tyrion Lannister - Após matar a sua irmã Cersei, embarca numa vida de "putas e vinho verde" (resumindo)

Daenerys Targaryen - Vai-se transformar na derradeira vilã virando-se contra Jon Snow. Acaba por perecer por causa dessa atitude.

Yara Greyjoy - Senhora de Pyke.

Theon Greyjoy - A falta de tomates vai conduzi-lo à morte. Agora a sério. Penso que tal como Jaime é outro que completará o seu caminho de redenção em Winterfell.

Melissandre - Morta. Vai ter um papel importante nas batalhas que se avizinham mas acaba por não sobreviver.

Jorah Mormont - A sua paixão por Daenerys vai levá-lo também para a cova.

The Hound - Mata o seu irmão e acaba como Senhor de um castelo qualquer.

The Mountain - Morto pelo irmão.

Samwell Tarly - Consegue sobreviver. É elevado a Lorde. Casa com Gilly. Mão do Rei Aegon.
O nosso Sam já sobreviveu a tanta coisa. O medo e ter que proteger Gilly e o pequeno Sam vão-lhe aguçar os sentidos.

Lorde Varys- Morto por Daenerys após trair esta em favor de Jon Snow.

Brienne of Tarth - Apesar de já ter o seu sonho realizado, eu imagino-a como comandante da Guarda Real.

Davos Seaworth - Pelos serviços prestados ao futuro Rei, Davos será nomeado senhor de Pedra do Dragão.

Bronn - Segue Tyrion na sua vida boémia.

Podrick Payne - Futuro senhor de Casterly Rock.

Tormund Giantsbane - Morre na batalha de Winterfell para salvar Brienne.

Grey Worm - Morto na batalha de Winterfell. Acaba por perecer nos braços de Missandei.

Gendry - Acho que vai casar com a Sansa cumprindo o desejo do seu pai de unir os Baratheon aos Stark.

Beric Dondarrion - Sem Thoros de Myr acaba por também ele morrer. E desta é de vez. Poderá ser importante para o desfecho.

Euron Greyjoy - Vai de agulha. A sua união com Cersei vai-se revelar uma má decisão.

E para completar acho que o único dragão que sobrevive é o Rhaego, que será um fiel companheiro do Rei Aegon. Viseryon vai ser morto por Drogon e este último vai ficar gravemente ferido vindo a sucumbir a um ataque do seu irmão. Daqui a momentos vamos começar a descobrir se acertei alguma coisa. Boa viagem até Winterfell.


quarta-feira, 17 de abril de 2019

Indignação Alegadamente Invejosa

Já vem sendo hábito as redes sociais serem o local predilecto para indignações. A mais recente é o facto de alguns milionários doarem um absurdo valor para a reconstrução de Notre Dame. E o pessoal perde a cabeça e clama logo:"então e da fome em África eles não se lembram?".
Antes de irmos à pergunta deixem-me, desde já, fazer um par de pontos prévios. Primeiro: não sou rico, nem milionário e nem pretendo com este texto fazer uma defesa aos mesmos. Segundo: a fome em África é, realmente, um problema gravíssimo sem solução à vista.
Voltemos então à dita pergunta tão clamada nas redes sociais. Aproveito para fazer essa mesma pergunta às centenas de pessoas que a escreveram. Também quero respostas dessas mesma pessoas. Porque isto é muito glorificante estar atrás do ecrã a enaltecer a malvadez desses milionários que são capazes de dar milhões para a reconstrução de uma catedral, mas nem um pão mandam para África. Agora pergunto-vos eu meus caros: e vocês o que é que já fizeram para acabar com a fome nesses países? Nem vou tão longe. O que é que já fizeram para acabar com a fome e a pobreza no vosso país? É tão bom quando estamos a mostrar a nossa indignação através de um Samsung Galaxy S10 ou de um iPhone XS. É tão bom quando temos Smart TV's, PlayStations 4 e outros luxos que tais. A catedral só ardeu ontem e a fome está todos os dias. É verdade. Então onde andam vocês todos os outros dias do ano? Ou foi um incêndio que vos tirou dessa amnésia hipócrita em que vivem?
No fundo, o que eu acho é que vocês não são indignados. São apenas invejosos por não terem uma fortuna para desbaratar com bem vos apetecer. Se querem uma mudança no mundo, sejam essa mudança ou, pelo menos, façam parte dela. Não se limitem a escrever sem praticar. Vá e agora voltem lá para a fila. Não vá o mundo acabar por estar sem combustível dois ou três dias.
P.S.: Estou à espera de uma chuva de indignações e insultos para com a minha pessoa. Mas lembrem-se: isso não acaba com a fome em África.