segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Solidão de Poeta

Sentado na rua, pensativo na sua solidão imóvel está Fernando Pessoa. Os que passam já se habituaram a vê-lo ali,faça sol ou chuva ele não se move. Alguns olhos já o consideram invísivel, apesar da notoriedade que adquiriu durante a sua curta vida. Um só homem onde habitavam tantos espíritos diferentes. Esquecido pelos lisboetas que ali passam e que se habituaram á sua imagem dourada, sentada ali esperando que a erosão do tempo o não apague para sempre. Lisboa ainda respira o seu cheiro, a "Brasileira" ainda é o local onde o poeta deseja ir beber a sua pinga embora a sua imobilidade já não lho permita. Se alguém se senta com ele, será talvez o despertar de uma alma adormecida e envelhecida. Quem não o esquece deseja lá voltar e fazer-lhe companhia porque provavelmente sente que é um solitário numa cidade repleta de gente. Muitos só se sentam, nem o cumprimentam e tratam-no apenas como um modo de obter um estatuto, não o respeitam nem conversam um bocadinho com ele com medo de serem apelidados de loucos. Eu fui, cumprimentei o Sr. Fernando e sentei-me com ele a beber um café e estivemos alguns minutos em amena cavaqueira. Claro que isto apenas é real na minha cabeça tal como o eram (e, provavelmente, ainda o são) Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos na mente do poeta. Combatia a sua solidão com os seus amigos "intrínsecos" e agora eu tentoa ajudá-lo. Vou lá poucas vezes, algumas vou de noite e apanho-o já a dormir sempre naquela cadeira dourada como ele. Uniu-se a ele e, por esta altura, é a sua única companheira como o foram em tempos os "amigos" já aqui referidos. No seu isolamento vive da memória dos que não o esquecem. Vive também fechado nalguma gaveta ou esquecido nalguma estante, mas claro, isso já não lhe faz diferença. Hoje só quer estar sentado na sua cadeira esperando que se erga um novo dia e que alguém se sente ali com ele para se sentir vivo, apesar de já não o ser!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Amor egocêntrico

Depois da noite, quando o sol desperta, outro mundo se ergue. Enquanto a escuridão preenche o espaço que nos separa, sento-me na cama a pensar no que somos e no que poderíamos ser. Somos duas almas separadas porque nos recusamos a partilhar a paixão que habita em nossos corações. És demasiado egoísta para te renderes e te entregares a um amor que tinha tudo para resultar. Tens medo que o amor te consuma a felicidade que agora tens, não partilhas essa felicidade porque o sorriso dos outros te causa inveja. Gostas de saber que o meu coração bate por ti mas nada fazes para que ele bata descompassado e completamente louco. Desajava poder-te ignorar mas seria um suplício pelo qual não quero passar. Queria poder dizer-te que te amo mas não é possível porque parte de mim te odeia pelo desprezo que dás ao que sentes. Um dia talvez percebas que fazemos parte da mesma história mas que não cabemos na mesma página por causa do teu enorme ego. Um dia, talvez um dia...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Noite de Sonho

Chegou o momento de romper com o passado que nos fez sorrir. Chegou a hora de deixar de chorar no presente. O futuro será sempre uma incerteza com planos de amores felizes e felicidade partilhada. Num mundo idealizado de olhos fechados seremos dois corações unidos em busca de um tesouro só nosso, de uma ligação eterna das nossas almas. Lentamente esperemos por um fim de sonho onde abraçados fazemos parte de uma vida que apenas eu imaginei para nós. Tenho alguma relutância em acordar agora, tenho medo de abrir os olhos e deparar-me com a realidade que ficou quando me deixei cair no sonho, tenho medo que os ponteiros do relógio estejam parados no mesmo sítio fazendo duvidar até do sonho. Tenho esperança de só acordar de manhã, quando o Sol me entrar pela janela e descobrir que estás aqui,a meu lado, e que afinal o sonho se misturou com a realidade.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Em Busca da Felicidade

Calou-se a música romântica que tocava a um ritmo lento e triste. Peguei numa folha branca e desejei preenchê-la com a dor que me invadia o coração. Jurei para mim que seria o último poema, as últimas palavras que me obrigavas a escrever para aliviar o sofrimento. Apetecia-me correr para ti mas sabia que agora era impossível. Distante e inacessível era como te descreveria neste momento. Comecei a escrever e a chorar deixando a folha manchada com o azul da tinta que se espalhava de uma forma livre e desordenada. Pensei em amassar a folha, rasgá-la ou queimá-la. Não era a escrever que te ia fazer desaparecer. Aliás, não havia maneira de te fazer desaparecer. O que estava escrito da nossa história não poderia se alterado e, na cabeça do autor, o final estava definido. Como bem sabes, nem todas as histórias de amor podem ter um final feliz. A nossa poderia ter esse final mas, incompreensivelmente, esse não era o nosso destino. A felicidade acabará por preencher os nossos corações separados mas nada apagará ou me fará esquecer a que vivi enquanto estive a teu lado. Seguirei o meu caminho solitariamente em busca dessa felicidade mas nunca estarei completo se não for feliz a teu lado.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Au Revoir!

Ambos desperdiçámos tempo. Tu dizendo palavras despidas de verdade e de emoção, eu ouvindo e acreditando. Arranjavas maneiras de discutir apenas pelo prazer que te dava e porque sabias que a minha mágoa me manteria afastado por algum tempo. Não imaginavas que a cada palavra destruía um pouco de mim. Mas, apesar disso, sempre estive disponível, queria dar-te o meu melhor e fazer-te sentir viva. Mas o teu tempo não era esbanjado a conhecer-me. Só me querias por perto pelo bem que te fazia ao ego. Sentias que não eras inútil, que alguém gostava de ti apesar do mal que fazias, que esse alguém não tinha amor-próprio suficiente para estar longe de ti. Estavas certa. Mas a maldade mora em todos os corações, só é preciso acender o rastilho. E tu brincaste com fósforos e isqueiros durante demasiado tempo e a chama acabou por, inocentemente, acender toda a crueldade que vivia dentro de mim. Comecei a odiar-te. Quanto te apercebeste disso arranjaste uma maneira de me afastar para sempre. Agora era-te indiferente. Chegava a hora de dizer adeus e não tinhas remorsos e aposto que sorriste sorrateiramente quando finalmente voltei as costas para nunca mais te querer ver. Para mim era um adeus doloroso e carregado de lágrimas. Sabia que era o adeus que desejavas e não fiz nada para te contrariar. Disse só adeus e parti.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Vazio Completo

Abri a porta. Deixei que o vazio me completasse. Olhei ao redor tentando preencher o que estava a faltar. Senti uma vibração de paixão sair do chão que ambos pisámos. Sentei-me nesse chão frio. Tentei ouvir a tua voz, ignorando o silencioso ruído que ecoava das paredes. Estremeci. Ouvi uma chave que penetrava na fechadura e abria, mais uma vez, essa porta. Olhei-te. Estavas tão linda como em todas as memórias que ainda guardo de ti. Pareceu-me que os teus olhos sorriam. Sentaste-te ao meu lado. Senti o calor invadir esta sala vazia de tudo. Tentávamos, assim sentados lado a lado, preenchê-la com um amor que se havia esgotado e ainda com tanto para dar. Levantei-me e dei alguns passos até chegar à janela e poder observar o exterior. Correu-me pela memória um tremor estranho que me puxava para ti. Soube nesse instante que ainda te amava. Não fui forte oi suficiente para ficar longe e aqui estava eu, de volta à nossa cabana de amor. Senti os teus braços envolverem-me pelas costas e o meu coração ajoelhou-se perante esse gesto carinhoso e doce. Virei-me e abracei-te. O vazio estava preenchido e os nossos corações estavam de novo acorrentados um ao outro. Desprendi o abraço e olhei-te nos olhos. Estavam lacrimejantes e brilhavam à luz do sol morno que entrava pela janela. Começaste a derramar algumas lágrimas. Também eu comecei a chorar. Chorei pelo que fomos e que se perdeu numa espiral de amor gasto e envelhecido. Contudo, nunca houve uma despedida. Amávamo-nos demais para nos abandonarmos completamente. Nunca houve um adeus definitivo, apenas um até breve. Limpei as lágrimas com as costas da mão e beijei-te. Amarrei-te os lábios querendo ficar parado no tempo. Soltei o beijo a custo e dirigi-me à porta. Sai e fechei essa porta, sabendo que um dia voltaria a entrar. Um dia, talvez um dia…

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Bloqueio

Não consigo escrever. Tento, tento mas não sai nada. Creio que será uma espécie de bloqueio sentimental e intelectual que não me permite sequer iniciar um pequeno texto. Portanto, e em resultado deste pequeno problema, queria pedir a coloboração de todos vós, leitores deste blog para que me ajudassem. É muito simples. Basta que me mandem desafios, sugestões, temas que queiram que eu aborde... Quem quiser poderá realizar uma pequena entrevista com perguntas variadas a que eu responderei e publicarei neste espaço. Como comuniquei anteriormente, este blog iria sofrer uma mudança. Agora, eu peço-vos a todos vocês que contríbuam para que a mudança e renovação deste blog continue em força. Desde já um muito obrigado a todos vós.

Aqui ficam alguns contactos para onde podem enviar o que entederem. Se tiverem algum que não esteja aqui mencionado poderam também utilizar esse.

E-mail: j.tiagobatista@hotmail.com
Facebook: http://www.facebook.com/update_security_info.php?wizard=1#!/profile.php?id=100000275781299

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Um Passo do Céu!




À memória de Kurt Cobain (1967-1994)

BANG! A arma disparou. Um tiro de misericórdia pessoal. O homem de 27 anos sentiu o frio do metal nas mãos. Sabia que era o fim, acabavam-se as músicas, acabavam-se os álbuns, acabavam-se os palcos, acabava-se a dor... Depois de ter escrito a sua carta de despedida dirijida ao seu amigo imaginário Boddah, encostou o cano da arma ao queixo e premiu o gatilho. E tudo se acabou. Depois do tiro sentiu o gelo percorrer-lhe o corpo. Pensou uma última vez na mulher e na filha. Podia partir em paz. E assim tocou o céu que, desde então, nunca mais foi o mesmo.


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Uma carta para minha avó

Querida avó:
Espero que esteja tudo bem contigo nesse assento divino onde estás. Provavelmente esta carta nunca te encontrará. Mas não te preocupes que daqui a muitos anos dir-te-ei estas mesmas palavras. Quero que saibas que tenho saudades tuas. Tenho saudades de chegar a casa e ver-te sentada no canto junto á televisão, saudades de conversar contigo sobre tudo e nada em particular, saudades de ouvir as tuas histórias de pessoas antigas, saudades de ouvir as tuas gargalhadas quando se contava uma piada, saudades de todas as horas que passávamos juntos em dias de chuva e vento... Desde que partiste ficou um vazio que dificilmente será preenchido, mas o sofrimento em que estavas era demasiado cruel para qualquer ser humano. Se havia pessoa que não merecia sofrer tanto, essa pessoa eras tu. Não eras perfeita, nem o ambicionavas mas o teu coração era de uma bondade tremenda. Espero que todo esse sofrimento tenha passado e que estejas em paz. Quero também que saibas que nunca esquecerei as palavras que me disseste quando a tua situação se agravou e tiveste que ir para o hospital. "Adeus, filhinho, estuda para ser um grande homem e ajuda a tua mãe que eu já não volto a esta casa". E, infelizmente, não voltaste mesmo. Parece que quando saíste já sabias o que o destino te reservava. Neste momento, as lágrimas já me cobrem o rosto. Talvez seja da saudade, talvez seja da emoção ou talvez seja uma mistura de tudo. Por agora acho que nada mais tenho a acrescentar. Esta deverá ser a última carta que te escrevo mas nunca me esquecerei de ti, minha querida avó. Espero, um dia, voltar a ver-te.

Do teu neto,
João Batista