sábado, 25 de outubro de 2014

Destroços

Sinto-me uma amálgama de destroços. Persisto em insistir na pessoa que sempre me magoa e desilude: tu. Mas hoje eu vou quebrar essa corrente em que tens preso. Hoje eu vou-me libertar de todas as merdas, de todas as mentiras, de todas as promessas vãs e das palavras doces ditas apenas da boca para fora. Gostava de perceber mas não sou autor omnisciente desta nossa história. Chega de lágrimas, chega de sofrimento e solidão acompanhada. Se não estivesse a tremer compulsivamente das mãos fumava um cigarro matando os meus pulmões, suicidando-me lentamente. O efeito é o mesmo do que estar apaixonado por ti. Ambas as coisas me desgraçam por dentro mas pelo menos quando fumo tenho algum prazer. É melhor viver longe e livre. Vou-me refugiar no meu bosque de azáfama citadina, sentar-me numa esplanada qualquer tentando esquecer-te enquanto emborco umas quantas cervejas frescas. Escorropicho esses copos de imperial como se o amanhã não chegasse. Chegará para mim e chegará para ti mas não chegará para nós. Quando acordar ressacado das bebedeiras, encharcado em mágoa e em Jameson e com o cheiro do tabaco impresso no corpo saberei que tentei esquecer-te mas falhei. Mas um dia abrirei os olhos e abrirei todas as janelas e o meu sorriso pois deixarei todo o sofrimento no passado e poderei encarar o presente com esperança renovada e reforçada. Não perdi a fé e o amor ao mundo, apenas perdi a esperança em pessoas como tu que se limitam a existir numa mesquinhez suprema. Se não há amor de volta seca a fonte, desvanece a luz, tremem os céus e a terra e chove torrencialmente até que eu faça o Sol da minha alegria brilhar novamente. Amanhã estarei melhor. Se não for amanhã há-de ser um dia. Um dia. Talvez um dia.

domingo, 19 de outubro de 2014

Insónia #2

Não tenho vergonha de chorar. Vivo nesta opressão de te amar, nesta ânsia de te ter aqui comigo. Enrugo uma cama demasiado espaçosa para conter apenas o meu corpo inerte. Falta o teu cheiro nestes lençóis, falta o teu calor para que eu possa abolir a presença do cobertor, falta a tua cabeça pousada no meu ombro a dormir de forma despreocupada. Choro por essa falta que me fazes nestas madrugadas em que sou assaltado por essa malvada insónia. Poderia apaziguar este ardor permanente nos olhos, poderia repousar sem ser sugado pelo pesadelo de não estares aqui. Chega esta altura em que penso livrar-me desta chaga e ser feliz, adormecendo no teu esquecimento. É tempo de me libertar destas algemas em que me colocas com palavras doces, com promessas vãs, com abraços e beijos fingidos. Digo sempre que quero ser livre mas não me canso deste aprisionamento, pois é contigo que eu sonho, é contigo que me sinto bem, é contigo que me sinto verdadeiramente completo. Mas tu insistes em ser o meu carrasco, a fonte desse sofrimento agridoce, a deusa do meu tormento. Talvez um dia sejamos dois corpos e uma alma. Um dia. Talvez um dia.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Derrota

Sinto-me agora vencido, sem um rumo para tomar. A prudência manda-me deitar e desligar a opção "memória" do meu cérebro. Numa total incapacidade de isso acontecer, estarei eu condenado a mais uma noite onde perco uma batalha com a insónia. Queria poder esquecer que jamais serei feliz contigo e desejava verdadeiramente apagar o fogo que arde em labaredas desgovernadas aqui dentro. Bem aqui dentro. Nesse lugar que mais ninguém pode preencher e onde só a tua frieza pode remediar esta agonia em que vivo. Pousarei a cabeça na almofada apenas e só por uma questão de conforto, apenas e só porque estou solitário, apenas e só porque nada mais tenho a fazer. Acabarei vencido pelo cansaço de te amar e adormecerei finalmente. Se acordarei não sei pois talvez eu queira ficar preso num sonho de nós, talvez eu queira viver e alimentar-me de sonhos. Nada posso fazer diferente, nada posso que não tenha feito antes. Se não é amor, então porque dói tanto? Se não é amor, porque choro eu? Que vergonha tenho de não ser forte, de viver de coração nas mãos pronto a entregá-lo a ti. Sei que amanhã é um novo dia mas a menos que a aurora te traga para junto de mim, amanhã não será diferente de hoje. Tal como hoje não é diferente de ontem. Dia após dia me tento esquivar do que sinto, tento esconder a falta que me fazes e encobrir a amarga tristeza que me devora. Mas tenho confiança que um dia serei feliz. Um dia. Talvez um dia...

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Talvez

Cativa-me essa tua beleza humilde mas tão carregada de realeza. Prendo-me nesses teus olhos expressivos, sem malícia, preenchidos de um desejo de felicidade simples. E depois essa boca que anseio por beijar carinhosa e perdidamente. É sonhando contigo noite e dia que vou percorrendo os becos de um amor talvez impossível, talvez inalcansável, talvez demasiado verdadeiro... Não fujo mas tenho medo que esta doença me consuma até aos ossos. Foi assim que eu escolhi viver, sempre numa poente periclitante onde tu és o destino. Apesar das vertigens eu vou atravessando, sabendo que a cada passo o chão me foge mais dos pés e que o coração se acelera descontrolado e aterrorizadamente feliz. Exausto mas não vencido prometo lutar para chegar a essa margem onde tu me esperas para sermos tudo o que sempre sonhei. Talvez eu não te mereça, talvez tu não me mereças mas no fundo não se trata de merecer, trata-se de amar incondicionalmente.