Era uma vez, num país muito distante em que a fotografia era a grande actividade, um rapaz que era pobre e que não tinha máquina fotográfica. Sentia-se triste pois não conseguia fotografar como todos os outros. Tinha experimentado uma vez e agora sentia uma paixão que o consumia no seu interior. Vagueava pelas ruas e via os flashes em toda a parte. Correu para o sítio mais isolado que encontrou. Era de uma beleza magnífica e desejou ter só por um minuto, uma máquina para guardar aquele momento. Nesse instante e como que por magia viu algo no chão. Era algo esquisito parecido com uma máquina fotográfica. Pensou “para estar aqui nem sequer deve funcionar”. Experimentou e o resultado foi surpreendente. Tinha finalmente uma máquina e podia fotografar o que lhe apetecesse. Fotografou até anoitecer e acabou por adormecer exausto. Os pais preocupados procuraram-no por todo o lado mas sem sucesso. Choraram, gritaram, sofreram. Foi uma noite em claro. Pela manhã, surge o rapaz de um local ermo com uma felicidade estampada no rosto.
- Meu filho, por onde andaste? – inquiriu o pai com o seu olhar já mais aliviado.
- Andei perdido no mundo mágico da fotografia.
- Onde fica isso?
- Não sei, cheguei lá porque desejava muito fotografar e o meu íntimo conduziu-me lá.
- Nós estávamos tão preocupados. Porque voltas-te tão tarde?
- Pai, foi o dia mais lindo da minha vida. Foi simplesmente fantástico… senti-me completo… senti… que o amanhã não chegaria.
- Está bem. Mas não voltes a repetir por favor.
- Achei esta máquina e tirei imensas fotografias – disse o jovem cheio de alegria.
- Mas, meu filho, a máquina não é tua. Receio que a vás ter que devolver.
- Não quero. Eu encontrei-a. Se o dono sentisse a falta dela já a teria procurado. Aliás, nem sequer a teria perdido.
- Deixo-te ficar com ela mas mesmo assim acho que a devias devolver.
O rapaz decidiu ficar com a máquina e continuou a fotografar tudo o que sempre desejou. Falta referir que a dita máquina era de um sistema digital, não tinha rolo e tirava mais fotografias que as mais avançadas máquinas que existiam no país. Passaram alguns dias sempre a um ritmo alucinante. Até que sem que nada o fizesse prever o rapaz abeirou-se do pai e disse:
- Pai, não quero a máquina. Onde é que a posso entregar?
- Não a queres?
- Não.
- Então vamos revelar essas fotografias e depois devolvemo-la. Pode ser?
- Não quero as fotografias.
- Mas que se passa?
- Pai, eu sempre fui pobre. Nunca tive uma máquina. Habituei-me a tirar fotografias com a minha mente. Apesar dos últimos dias terem sido fabulosos eu prefiro como era antes. Assim, a imagem fica guardada na minha cabeça e eu posso mudá-la se isso me fizer mais feliz. Cada um faz fotografia à sua maneira e eu já encontrei a minha.
Deixou a máquina na mão do pai e partiu sem sequer olhar para trás.
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