José Saramago criou Blimunda. E Blimunda criou um mundo mágico e misterioso. Blimunda é uma estranha vidente que, em jejum, vê o que existe dentro das pessoas, através dos corpos ou no interior da terra. É ela que recolhe as “vontades” para que a passarola do padre Bartolomeu possa voar. Este poder oferece a Blimunda a possibilidade de ver e conhecer melhor o mundo e tudo o que o sustenta. O seu olhar via “vontades”. E quantos de nós possuem essa vontade de voar e fugir dum mundo de tristeza e medos? Mas essa vontade não é visível aos olhares comuns o que torna Blimunda num enigma que nem a própria pode explicar. Magia e fantasia de mãos dadas com um olhar transparente, clarividente e que vê tudo nas madrugadas jejuadas. Provavelmente, todos gostaríamos de ver dentro dos outros, tal como Blimunda Sete-Luas. Assim, era fácil identificar enganos e falsas promessas, reconhecer verdades e mentiras, sentir sentimentos que ecoam no interior de outra pessoa. Seria também possível e agradável poder ver como é o verdadeiro amor e o que ele faz no nosso interior. Contudo, Blimunda recusou-se ver dentro de Baltasar, seu verdadeiro amor. Ela sabia, tal como todos nós, que o verdadeiro amor é cego. Não se pode ver esse amor com os olhos, apenas senti-lo na boca, nos arrepios corporais que estremecem o corpo trepidante de desejo. É um amor silencioso que apenas é sensível ao toque. Por isso, o amor de Baltasar e Blimunda nunca precisou de palavras de amor porque, tanto um como o outro, sabiam que se amavam. E isso bastava-lhes.
Olá! Hoje reli o último capítulo do Memorial, queria mesmo chorar... de satisfação, de alegria porque aquelas palavras finais... Gostei do seu texto!" Vou ficar por aqui. Abraço.
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